Opinião de Ana Margarida Teixeira – Farmacêutica e militante da JSD Lousada
A ameaça de uma 3.ª Guerra Mundial sempre esteve presente nas nossas cabeças, mas certamente a pensar num país rico contra um país ainda mais rico, por causa de tecnologia ou armamento nuclear. A prepotência, o dinheiro e a vontade de demonstrar quem seria mais forte sempre foram vistas como as principais ameaças para a despoletar. Com uma guerra tecnológica coloca-se em risco a subsistência das gerações.
O que a maioria da população nunca pensou, ao contrário do que os cientistas e especialistas têm vindo a alertar, é que a 3º grande Guerra Mundial seria contra um vírus invisível a olho nu, mas que deixa um rasto de destruição gigante.
Dia após dia é travada uma batalha contra este inimigo comum que é preciso vencer para tentar ganhar esta guerra. Mas a verdade é que só venceremos a guerra se conseguirmos investir fortemente na saúde, nas infraestruturas hospitalares, na ciência e na investigação. Sem a procura constante de novos conhecimentos, o Mundo e a Sociedade não evoluem (e não vale a pena negar isso)!
Mas a verdade é que Portugal tem investido pouco nesse sentido: existem milhares de alunos que após terminarem o seu percurso académico gostariam de continuar a sua carreia científica, muitas vezes iniciada voluntariamente durante a faculdade, mas que devido ao pouco investimento que é colocado nessa via (poucas bolsas de investigação e de doutoramento e os seus difíceis requisitos de entrada), levam a que a maioria abandone essa hipótese e siga por uma carreira menos precária.
Consubstancializado isto desta forma, não é avanço para futuras guerras virais ou bacterianas que são muito prováveis de acontecerem nos próximos anos! Para ganharmos esta guerra é também necessário um investimento abrupto na saúde mental.
A saúde mental não é só a ausência de uma doença intelectual, é sim um nível de qualidade de vida cognitiva e emocional necessário para atravessar todos os momentos bons e menos bons do nosso dia-a-dia. Depois deste ano atípico, mas que não será certamente o único nestes próximos tempos, a saúde mental de todos foi e será uma parte da guerra que é preciso vencer!
O investimento em saúde mental e em políticas de saúde com a adaptação de projetos inovadores, o apoio psicológico que é preciso fomentar para deixar de ser um estigma na comunidade são essenciais para evoluirmos enquanto sociedade.
Portugal é um dos países com maior consumo de ansiolíticos, hipnóticos e sedativos. Este grupo inclui, maioritariamente, benzodiazepinas e análogos, que são usadas no tratamento da ansiedade sintomática e das alterações do sono, sendo comum a sua prescrição, visível em pessoas cada vez mais jovens.
Devido ao risco de dependência e habituação num número expressivo de pessoas, a interrupção do tratamento está dificultada. Segundo o Programa Nacional para a Saúde Mental (PNSM), o aumento contínuo da prescrição de ansiolíticos representa um risco para a saúde pública. A sua utilização deve ser limitada no tempo (INFARMED).
É necessária a reeducação do paciente e do padrão de prescrição. É essencial a prevenção de danos mais graves nas gerações futuras, as crianças e jovens de hoje serão os adultos do amanhã.
O endividamento para tentar salvar negócios que estão fechados há meses e/ou com perdas de faturação há demasiado tempo, problemas familiares, stress e ansiedade vão levar ao aumento de roubos e violência, transtornos de personalidade, aumento de suicídios e assim em diante… estes temas devem ser abordados e prevenidos, para tentarmos ter soldados sãos para as próximas guerras.
Estamos a vencer as batalhas mas não ganharemos a guerra!